Sinopse

Maddie Ziegler, a bailarina, ainda menina (cerca de 12 anos), alter-ego de Sia, vai transmitindo os sentimentos da cantora, dançando numa casa degradada e abandonada, qual ‘eu’ encerrado na sua própria ruína labiríntica. Faz piruetas, pendurada num candelabro. Considera-se um “pássaro na noite”, voando, enquanto as lágrimas caem e secam. Ela tem vergonha de si própria, mas sabe que não conseguirá sozinha mudar o rumo da sua vida. Então pede ajuda.

Temáticas
  1. A vulnerabilidade do ser, que procura a superação através da fuga, da alucinação e dos excessos;
  2. A contradição entre a alienação de uma vida vivida, dia a dia, sem amanhã, com uma falsa felicidade, construída de dependências, e a consciência da destruição constante do seu próprio ser;
  3. A violência da autodestruição e o medo da repetição incessante dos mesmos comportamentos;
  4. O poder exercido sobre o público, transmitido pela ligação entre a mensagem da letra, da música e da imagem.

Material de Apoio

Análise do Vídeoclipe de Sia – Chandelier

Chandelier, considerada a melhor música de 2014, pela revista musical americana Billboard, é um dos grandes hits de Sia. Como é usual, a imagem da cantora não aparece diretamente neste videoclipe. A personagem é uma “mini-Sia”, Maddie Ziegler, uma bailarina, então com 12 anos, que dança uma coreografia muito peculiar. A razão desta ocultação da própria imagem é explicada, pela própria cantora, de uma forma sucinta mas significativa, em declaração na sua página do Twitter: “eu simplesmente gosto de ser uma voz“.

Chandelier é um grito de alarme, fruto de uma experiência de vida. Então em 2014, Sia tinha abandonado o álcool e as drogas há quatro anos. Recentemente (11 de setembro de 2018), Sia comemora o seu 8º ano de libertação daquelas dependências: “Eight years sober today. I love you, keep going. You can do it.” @sia, 07:36 – 11 de set de 2018.

Este vídeo começa por nos mostrar um cenário quase devoluto, um espaço frio que sugere abandono, embora com sinais de que aí já tenha havido “vida” familiar. Durante os primeiros 10’’ do videoclipe, só existe um ruído que percecionamos como sendo branco. Este ruído branco é ideal para camuflar, ou abafar, todos os outros sons que estão à volta, por ser a junção de todas as frequências numa mesma potência, o que concentra a atenção que se possa ter para a audição da música ou visualização do videoclipe. Este ruído branco, conjugado com imagens de uma casa abandonada, fornece os ingredientes fundamentais para a imersão na narrativa, ao colocarem-nos em presença de um ‘mistério’ a desvendar.

Assim que começa a letra da música, a imagem que surge é a de uma criança em fato de ballet da cor da pele, simulando a nudez, numa posição periclitante, pendurada nas ombreiras de uma porta, evidenciando um equilíbrio instável e até perigoso.

Em presença da letra da canção, verificamos que, nas duas primeiras estrofes, a cantora revela-se como alguém carente, magoada e de ressaca. Apesar disso, não consegue resistir ao apelo dos amigos para voltar ‘pros copos’, até perder a conta dos shots: “1, 2, 3, drink – until I lose count”.

Cut 1

 

O vídeo sugere que a cantora possa ser a criança do videoclipe, porque, durante os primeiros 45’’ do vídeo, a performance vocal das duas primeiras estrofes e a ponte (bridge)[1] para o refrão são cantadas num registo de voz roufenha, sem corpo, quase sem harmónicos, que poderia ser produzida pela criança bailarina.

No que toca à música e ao acompanhamento da voz, a primeira parte é composta pelas duas primeiras estrofes, cada uma com quatro compassos que são repetidos – melodia e harmonia -, com uma letra diferente. Durante estas estrofes, de acordo com a fragilidade encarnada pelo sujeito, na letra, a música revela-se através de uma instrumentação muito leve, sendo apresentada com bateria eletrónica e acompanhamento simples de um sintetizador.

A primeira imagem que temos da menina é uma imagem de poder e de controle total –uma super-heroína, suspensa, à custa da força dos pés, na moldura da porta de entrada.

Cut 2

 

Esta imagem surge, ao mesmo tempo que a letra diz que “Raparigas da festa não se magoam / Não consigo sentir nada, quando vou aprender? / Eu reprimo, eu reprimo”. A imagem da criança é como que um mimar da letra, que não corresponde nem ao tom de voz, nem à tonalidade da música, mas sim à ideia de que a autora não é uma dessas raparigas que nada sentem, mas sim alguém carente e magoado. Entretanto, nas três primeiras frases do refrão, a cantora parece ter encontrado a forma de aliviar a dor: “Eu vou balançar no candelabro/ no candelabro / Eu vou viver como se não houvesse amanhã / como se não houvesse amanhã / Eu vou voar como um pássaro na noite, / a sentir as minhas lágrimas enquanto secam”.

Apesar da cantora não aparecer no videoclipe, há aspetos que nos fazem lembrar Sia. Há signos que, ao serem passados, a identificam: uma peruca, usada pela bailarina, imita o cabelo de Sia, ou as perucas que são usadas pela própria Sia.

Cut 3

 

Também é percetível, na cena seguinte, por cima da bailarina, quando esta se senta num colchão, um quadro com a imagem de Sia. Logo de seguida, a câmara foca somente a criança que, mais uma vez, faz gestos de mímica de acordo com a letra – os shots de bebida.

Cut 4

 

A canção é constituída por duas grandes partes, a nível harmónico, melódico e lírico. A segunda tem o dobro do tempo da primeira, e ainda existe uma secção, a que chamaria ponte [1] para o refrão (quatro compassos no total, composta pela repetição dos tocados em momentos anteriores, a que foram adicionados dois novos compassos).

Numa primeira parte, que já foi descrita, e que nos transporta para o imaginário de alguém só e carente, apesar das mensagens de encorajamento próprio, entramos numa segunda parte, que é a mais repetida e prolongada da canção, em que que continua de
copo na mão:

“E estou-me a agarrar à doce vida, / não vou olhar pra baixo, não vou abrir os olhos / Vou manter o copo cheio até à luz da madrugada, / porque só me estou a aguentar por esta noite / Ajudem-me, estou-me a agarrar à doce vida, / não vou olhar pra baixo, não vou abrir os olhos / Vou manter o copo cheio até a luz da madrugada, / porque só me estou a aguentar por esta noite”. A sua esperança é de que aquela seja a última noite “de copos”

A sua esperança é de que aquela seja a última noite “de copos”, embora o declare com pouca convicção, uma vez que pede ajuda para que assim seja, realmente.

Ainda durante as frases do refrão, assistimos a uma dança, feita de movimentos de grande amplitude. É a libertação do corpo e a total ocupação do espaço envolvente, com rodopios e piruetas, realizados de forma virtuosa. Estes movimentos amplos vão sendo alternados, progressivamente, com gestos precisos e pequenos, no sentido de mimificarem alguma coisa – mas nada na letra ou na música parece dizer o quê, até à terceira estrofe. Aí os gestos amplos param e é clara a teatralização da letra – sobre a ressaca matinal que a cantora retrata, novamente, com utilização de uma voz pequena, sem vibrato, como a usada, no início da canção.

Com o refrão, que apresenta uma forma de mini-canção de estrutura: AABA, em que cada uma destas partes tem quatro compassos, inicia-se a segunda grande parte da canção. Ora, se já na parte da ponte [1], se deu a entrada da bateria acústica, várias outras camadas de sintetizadores e foi aplicada uma masterização para compactar e fortificar a voz, aqui, no refrão, esse efeito sonoro é levado ao extremo, fazendo parecer que estamos perante uma voz gigante, cheia de harmónicos, potente e de grande alcance e empostação – ao contrário do que acontecia nas estrofes do início.

Na terceira estrofe há a consciência de que o sujeito está de ressaca, que quer fugir desta realidade, que tem vergonha dele próprio, mas o ciclo vicioso volta, e tudo se repete sem remissão. No que diz respeito à imagética, ao se dar a repetição da ponte (bridge), seguida do refrão, repetem-se os movimentos grandes, amplos, tomando todo o espaço, desembocando numa despedida e num retorno da bailarina, onde, pela primeira vez, se vê, em grande plano, um rosto claro, de olhos azuis, cuja maquilhagem o torna  ainda mais angelical.

Cut 5

 

Uma das imagens com grande força é a da bailarina, segurando-se ao cortinado, abrindo um olho com os dedos, mimificando a parte da letra em que o sujeito da narrativa declara:

“Porque só me estou a aguentar por hoje à noite / Por hoje à noite / Por hoje à noite”.

Depois disso, há mais uma cena em que ela está a “ralhar” com ela própria – virando-se para a parede, como se fosse um espelho, e abanando o indicador em desaprovação.

Cut 6

 

No tocante à música, logo a seguir ao refrão, verificamos que, enquanto a Sia canta aquela que parece a parte mais extensa e repetida da canção “I’m holdin’ on to dear life”, os teclados continuam a fazer, por baixo disso, a melodia e a harmonia do refrão – fazendo apenas a parte A – durante oito compassos na primeira vez, durante 16 compassos, aquando da repetição da canção inteira e chegada ao final.

A canção toda é, assim, feita duas vezes apenas. A harmonia é muito simples. As estrofes são constituídas por quatro acordes: a ponte  traz uma nova melodia sobre os mesmos acordes das estrofes. O refrão acrescenta apenas um acorde novo. Na ponte, com o ritmo ternário da melodia “1, 2, 3, 1, 2, 3,…”, por breves momentos, a acentuação do compasso quaternário fica deslocada para um compasso ternário, que imediatamente é desfeito, pela acentuação do quarto tempo pelos címbalos da bateria. Da mesma forma, a acentuação do último tempo de cada compasso na ponte (bridge), pelo soar dos címbalos, como um tiro ecoante, determina o crescendo desta parte, onde aparece a bateria acústica pela primeira vez.

A cantora canta o refrão no limite da tessitura do registo de peito, fazendo a passagem para o registo de cabeça nas notas limite das duas primeiras frases. Mas na frase B do refrão “I wanna fly…”, ao 1’10’’, ela não faz a passagem para o registo de cabeça, gritando as últimas notas, soando desesperada. Ora, quando essa parte volta a ser repetida, cerca de um minuto depois (ao minuto 2’38’’), soa exatamente da mesma maneira.

Cut 7

 

Por fim, a bailarina fica à porta do apartamento e faz quatro vénias, com um sorriso forçado em cada vénia, passando a mensagem de que acabou a performance. E a música acaba, da forma como começou, com o ruido branco.

Cut 8

[1] Bridge (do inglês ponte) é uma secção musical curta e diferente que une duas partes distintas de uma canção. Normalmente dura apenas 4 a 8 compassos e distingue-se claramente do resto da canção, tanto no modo (maior ou menor) como no estilo (zona mais aguda da voz, ou zona mais calma ou zona cheia de tensões).

Chandelier

Party girls don't get hurt
Can't feel anything, when will I learn
I push it down, push it down

I'm the one "for a good time call"
Phone's blowin' up, they're ringin' my doorbell
I feel the love, feel the love

One, two, three, one, two, three, drink
One, two, three, one, two, three, drink
One, two, three, one, two, three, drink

Throw em back, till I lose count

I'm gonna swing from the chandelier,
from the chandelier
I'm gonna live like tomorrow doesn't exist
Like it doesn't exist
I'm gonna fly like a bird through the night,
feel my tears as they dry
I'm gonna swing from the chandelier,
from the chandelier

And I'm holding on for dear life,
won't look down won't open my eyes
Keep my glass full until morning light,
'cause I'm just holding on for tonight
Help me, I'm holding on for dear life,
won't look down won't open my eyes
Keep my glass full until morning light,
'cause I'm just holding on for tonight
On for tonight

Party girls don't get hurt
Can't feel anything, I push it down, push it down

I'm the one "for a good time call"
Phone's blowin' up, I feel the love, feel the love
I feel the love, feel the love

Sun is up, I'm a mess
Gotta get out now, gotta run from this
Here comes the shame, here comes the shame

One, two, three, one, two, three, drink
One, two, three, one, two, three, drink
One, two, three, one, two, three, drink

Throw em back till I lose count

I'm gonna swing from the chandelier,
from the chandelier
I'm gonna live like tomorrow doesn't exist
Like it doesn't exist
I'm gonna fly like a bird through the night,
feel my tears as they dry
I'm gonna swing from the chandelier,
from the chandelier

And I'm holding on for dear life,
won't look down won't open my eyes
Keep my glass full until morning light,
'cause I'm just holding on for tonight
Help me, I'm holding on for dear life,
won't look down won't open my eyes
Keep my glass full until morning light,
'cause I'm just holding on for tonight
On for tonight 
On for tonight

Compositores: Jesse Shatkin / Sia Furler
Candelabro

 

 

 

Raparigas da festa não se magoam
Não consigo sentir nada, quando vou aprender?
Eu reprimo, eu reprimo

Sou a quem se liga para a diversão 
O telefone não para de tocar, estão a tocar-me à campainha 
Eu sinto o amor, sinto o amor

Um, dois, três, um, dois, três, bebe
Um, dois, três, um, dois, três, bebe
Um, dois, três, um, dois, três, bebe

Atiro-as para dentro, até perder a conta

Eu vou balançar no candelabro,
no/do candelabro
Eu vou viver como se não houvesse amanhã 
como se não houvesse amanhã 
Eu vou voar como um pássaro na noite,
a sentir as minhas lágrimas enquanto secam
Eu vou-me balançar do candelabro,
do candelabro

E estou-me a agarrar à doce vida,
não vou olhar pra baixo, não vou abrir olhos
Vou manter o copo cheio até a luz da madrugada,
porque só me estou a aguentar por hoje à noite
Ajudem-me, estou-me a agarrar à doce vida,
não vou olhar pra baixo, não vou abrir os olhos
Vou manter o copo cheio até a luz da madrugada,
porque só me estou a aguentar por hoje à noite
hoje à noite

Raparigas da festa não se magoam
Não consigo sentir nada, eu reprimo, eu reprimo

Sou a quem se liga para a diversão 
O telefone não para de tocar, estão a tocar-me à campainha 
Eu sinto o amor, sinto o amor

O sol vai alto, eu estou um caos
Tenho de sair agora, tenho de fugir disto 
Lá vem a vergonha, lá vem a vergonha

Um, dois, três, um, dois, três, bebe
Um, dois, três, um, dois, três, bebe
Um, dois, três, um, dois, três, bebe

Atiro-as para dentro, até perder a conta

Eu vou balançar no/do candelabro,
no/do candelabro
Eu vou viver como se não houvesse amanhã
como se não houvesse amanhã
Eu vou voar como um pássaro na noite,
a sentir as minhas lágrimas enquanto secam
Eu vou-me balançar do candelabro,
do candelabro

E estou-me a agarrar à doce vida,
não vou olhar pra baixo, não vou abrir olhos
Vou manter o copo cheio até a luz da madrugada,
porque só me estou a aguentar por hoje à noite
Ajudem-me, estou-me a agarrar à doce vida,
não vou olhar pra baixo, não vou abrir os olhos
Vou manter o copo cheio até a luz da madrugada,
Porque só me estou a aguentar por hoje à noite
Por hoje à noite
Por hoje à noite

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