Vídeoclipe Rihanna – We found love

“We found love” foi um dos sucessos de 2012 e continua a ser, em 2018. Este vídeo tem até agora quase 803 milhões de visualizações, no canal oficial da cantora no YouTube. Ganhou o prémio de vídeo do ano de 2012, nos MTV – Video Music Awards e o prémio de melhor vídeo de curta metragem, nos Grammy’s de 2013.

A música do videoclipe é bastante simples. A cantora canta a mesma melodia, ainda que haja alguma variação na letra.

Durante 4’35’’, a melodia é sempre igual, com sonoridades psicadélicas, típicas de música de discoteca. Parece mais uma performance de um DJ (que aparece na cena da praia e é de facto o autor da música) do que uma canção. Isso poderia justificar a referida pobreza melódica e harmónica, se a cantora fosse apenas mais um elemento, acrescentado à parte instrumental, concebida pelo Disco Joquey. Contudo, a cantora é um dos elementos principais da narrativa.
A música é composta por um único tema de dois compassos e por outros dois subtemas que são variações / respostas a esse primeiro tema. Tem apenas quatro acordes que são apresentados como base desse primeiro tema melódico, nos dois primeiros compassos.
Depois disso, essa sequência harmónica de quatro compassos é repetida exatamente da mesma maneira trinta e seis vezes.
A estrutura melódica aparenta ser a de uma canção, mas a estrutura formal e os encadeamentos harmónicos não chegam para  preencher o tamanho de uma canção de 24 compassos, sendo por isso repetidos para preencher o tamanho tradicional de 32
compassos.

No longo monólogo (48”) inicial, a cantora explicita os sentimentos contraditórios daquele amor fatal, violento e sem esperança:

”Sentes-te sem esperança, como se nada te pudesse salvar / E quando acaba, e desaparece / Quase desejas ter de volta todas
as coisas más / Para poder ter também o que era bom.”

Durante este tempo, a cantora e o seu namorado aparecem em diferentes lugares e situações, ora juntos, ora separados, em cenários diversos, dentro de casa, à janela, no exterior, num campo despido, ora acariciando-se, ora afastando-se, ora voltando a aproximar-se.
Desde logo fica definida a principal temática do videoclipe. Estamos perante a narrativa de uma relação íntima em que tudo é excessivo, contraditório e violento. (É possível que a temática escolhida possa ter algo de autobiográfico. A própria cantora foi vítima de violência, em 2009, quando o seu namorado Chris Brown, a agrediu com socos,  pontapés e mordidelas, o que a conduziu ao hospital. Chris veio a ser julgado e condenado, por violência conjugal).

Numa sequência de imagens, em que aparecem juntos, na banheira, à janela do apartamento, na cama, onde fazem sexo, a cantora vai falando de uma situação relacional complexa e dolorosa, de amor e ódio, viciante, que parece não ter saída, porque aquele amor foi construído “num lugar sem esperança!”.:

“Quase te sentes envergonhada / Que alguém possa ser tão importante / Que sem ele, te sintas como um nada”

Estamos perante uma verdadeira narrativa de violência no namoro, onde se perceciona, explicita ou implicitamente, um sistema circular de violência, que se traduz em momentos de tensão, que passam pela agressão e terminam num novo envolvimento apaixonado e intenso

“Enquanto a tua sombra cruza a minha / É o que basta para que eu ganhe vida”

para, depois, tudo voltar ao princípio, como se não houvesse saída. As imagens do vídeo terminam com Rianna, no canto de uma sala, a chorar, após mais uma, ou a derradeira (quem sabe!) separação.

Video (Total)

O domínio do poder de um elemento do par amoroso sobre o outro, ingrediente muito comum de exercício de violência em relações de intimidade, é manifestado, em vários momentos e performances do videoclipe, de forma subliminar. Há, contudo, momentos em que esta dominação é explícita. Referimo-nos especificamente a dois. Na imagem que aparece ao minuto 3’06’’, vemos Rihanna a escrever a palavra “yours” e, na imagem relativa ao minuto 3’45’’, vemos o rapaz a tatuar a palavra “mine” na nádega da cantora.

Cut 1

 

Cut 2

Cut 3

 

Tudo é intenso, nas imagens do vídeo. Em momentos bons, Rianna interage com o seu namorado, feliz, numa pista de skate, numa festa ao ar livre, num supermercado, empurrando-se mutuamente num carrinho de compras e borrifando-se com bebidas enlatadas, para logo de seguida, num carro conduzido por ele, a alta velocidade, iniciarem uma nova discussão, que termina com Rhianna a ser agarrada pelo queixo, pelo namorado, que a obriga a olhar para ele, num ato violento.

Cut 4

 

Vive-se aqui um amor fusional, um amor destrutivo, um amor que usa também as drogas como uma metáfora:

“Diamantes amarelos na luz / E nós estamos em pé lado a lado / Enquanto a tua sombra cruza a minha”

As imagens vêm confirmar esta relação de amor destrutivo: a maquilhagem esborratada da Rihanna, a camisa rasgada dele, o olhar desconfiado de ambos.
Existem ainda vários cortes rápidos em algumas cenas do videoclipe, que podemos interpretar como o retrato de uma relação  continuada no tempo, ligando passado e presente, num único paradigma: o de um amor violento, tóxico (em todos os sentidos do
termo), com interrupções e reatamentos.

Cut 5

Cut 6

 

O refrão da música coincide, normalmente, com situações em que o casal mistura drogas e sexo, como ingredientes essenciais de prazer. Mas não podemos deixar de ter presente o refrão da canção, “Encontrámos amor num lugar sem esperança”, que é repetido 16 vezes, como se a repetição fosse uma fórmula mágica, carregada de energia sonora, uma espécie de mantra, que conduz à interiorização desta circunstância.

Cut 7

 

Grande parte da narrativa desenrola-se num apartamento pequeno, com pouca mobília, desarrumado, degradado. Esta degradação, aliada a um amor obsessivo e violento, à utilização das drogas, ao tipo de vestuário usado por ambos, pode dar sinais de que ali
vive um casal com um estilo de vida, que pode ser atrativo para muitos adolescentes.