Sinopse

A cantora está sozinha durante o videoclipe. Não há mais ninguém em cena. O cenário está repleto de copos com água, em número infinito, denotando uma emoção contida, através da água, que nunca se mistura de copo para copo. A figura mítica que aparece, o guerreiro/bailarino, vestido de negro, pode representar uma espécie de alter-ego da cantora. A imagem dos pratos partidos transmite emoções de raiva e de violência, no contexto de uma letra, que narra uma história de amor fracassado.

Temáticas

1.      A contradição entre o amor incondicional e o desejo de vingança, com o fim de uma relação:

– Sensações e emoções explícitas e subliminares sobre amor, desilusão, frustração e raiva;

– A postura estática da cantora, em contradição com os seus sentimentos de amor frustrado, raiva, revolta e vingança;

2.       A forma como é tratada a imagem da cantora, por não corresponder ao estereótipo de beleza da mulher na atualidade;

3.       O poder exercido sobre o público, transmitido pela ligação entre a mensagem da letra, a música e a imagem.

Material de Apoio

 Adele, Videoclipe de “Rolling in the Deep” (2010/2011)

Este estudo será exposto em duas partes: a biografia da cantora e as componentes do videoclipe “Rolling in the Deep” (letra/mensagem, música e imagem).

Adele – a cantora

A cantora londrina Adele, atualmente com 29 anos, é uma das maiores recordistas da história da música pop mundial, chegando a igualar o êxito dos Beatles, em 1964. Adele teve dois álbuns, simultaneamente, no Top 5 de Inglaterra. É vencedora de dez Grammy Awards, quatro Brit Awards, um Globo de Ouro e um Óscar com a sua música “Skyfall”, banda sonora de um dos filmes do 007.

A canção com a qual iremos trabalhar, “Rolling in the Deep”, foi um dos maiores sucessos do séc. XXI, batendo records, quer nos Estados Unidos, quer no Reino Unido. Em 2015, Adele lançou, a 23 de outubro, o seu mais recente single “Hello”, que, novamente, bateu records, com mais de 23 milhões de visualizações, em apenas 24 horas.

Adele destaca-se também de muitas outras cantoras internacionais, porque não corresponde ao estereótipo de beleza da mulher da atualidade – a mulher de estatura média, magra, que a moda tenta impor aos ídolos pop. De facto, desde o seu lançamento como cantora internacional, Adele distingue-se, das demais cantoras pop, pelo seu rosto marcante, de grande beleza e fotogenia, pela sua postura muito elegante e por um estilo próprio, na forma de vestir e de estar, nas suas aparições em público.

Videoclipe – “Rolling in the Deep”

Será importante perceber a ligação da letra/mensagem, música e imagem para compreendermos o quanto a junção destes três elementos tem poder. Este videoclipe é, na sua essência, um curto filme de grande simplicidade, condizendo, de certa forma,
com a postura da cantora. Contudo, não deixa de ser uma encenação arquitetada por uma super-equipa que tem nas suas mãos “ferramentas”, de grande poder persuasivo perante o espetador.

Logo no início do videoclipe, se prestarmos bem atenção, é usado, como som, algo parecido com os ponteiros de um relógio, que prende de imediato o espetador. Assim, é-nos apresentada uma imagem estática com este som crescente (em fade in), feito por uma guitarra a tocar ritmicamente um som, que nos é muito familiar. Desde o início até ao segundo 0’23’’, todas a imagens que aparecem, incluindo as de Adele, são feitas também com o recurso de zoom in, efeito que aproxima o espetador da narrativa. Ao segundo 0’23’’ do videoclipe, entra em cena uma bateria, marcando com o bombo a pulsação humana, ao mesmo tempo que nos é apresentada, visualmente, uma quantidade infinita de copos com água.

Cut 1

 

Desta forma, até ao segundo 0’23’’, o espetador já está completamente embrenhado na ação do videoclipe. Interage, fisicamente, com a narrativa, pelo batimento da pulsação e, emotivamente, pela água que se movimenta dentro dos copos.

Cut 2

 

Percebemos que todo o videoclipe, em comparação com outros do mesmo ano, analisados através da lista dos “mtv music awards de 2011”, é significativamente estático. A cantora, figura principal da narrativa, aparece sempre sentada numa cadeira de braços, de grande elegância. As suas vestes e penteado também parecerem datados (década de 60 do séc. XX). Em algumas cenas do videoclipe, quase entramos num quadro renascentista, nomeadamente na imagem, ao minuto 2’17’’, de perfil de Adele, numa das poucas cenas em que ela não canta. Este cenário é reforçado, através da mudança de foco, para os frescos e altos-relevos da sala em que a cantora se encontra.

Cut 3

 

Debruçando-nos sobre a letra, apercebemo-nos que a mensagem transmitida é de raiva pelo fim da sua relação amorosa. Está revoltada, deseja vingança, sente-se ferida, mas anuncia estar a ‘sair da escuridão’.

Há um fogo a começar no meu coração / Atingindo um estado de febre, está-me a trazer da escuridão / Finalmente consigo ver-te de forma cristalina / Vá, atraiçoa-me e eu hei-de expor os teus podres.

Tendo em conta estes traços gerais da letra da canção, apercebemo-nos que a mensagem se apresenta completamente distorcida, quando comparada com a imagem principal do videoclipe, em que a cantora permanece, do início ao fim, confinada a uma cadeira, com as pernas na mesma posição.

Vê como me vou embora com todos os teus pedaços / Não subestimes aquilo que eu vou fazer / Há um fogo a começar no meu coração / Atingindo um estado de febre / E está a trazer-me da escuridão.

Apenas, a partir do minuto 1’52’’, nos apercebemos de uma pequena mudança, que acontece quando a canção passa para o refrão, em que a cantora já esboça um leve movimento, com a parte superior do corpo. Apenas a louça partida simboliza os sentimentos de raiva e vingança expressos na letra.

Cut 4

 

O estereótipo da mulher magoada, destinada a sofrer, mas a saber conter a sua dor, a ocultação dos traços fisionómicos de Adele, que não coincidem com os ícones de beleza da cantora pop, estão presentes no videoclipe.

Este parece-nos ser mais um exemplo de videoclipe, que “branqueia” a realidade, através da letra/mensagem, música e imagem, e que transmite, subliminarmente, a idealização de um ser que não existe, ou seja, uma mulher sofredora e enraivecida (tenha-se em conta a mensagem expressa pela letra da canção), mas que se mantem “digna” e “em pose”, reprimindo sentimentos, do início ao fim do videoclipe. É o pleno domínio da imagem e a subalternização da mensagem escrita.

Rolling In The Deep

There's a fire starting in my heart
Reaching a fever pitch and it's bringing me out the dark
Finally I can see you crystal clear
Go 'head and sell me out and I'll lay your ship bare
See how I leave with every piece of you
Don't underestimate the things that I will do
There's a fire starting in my heart
Reaching a fever pitch and its bringing me out the dark

The scars of your love remind me of us
They keep me thinking that we almost had it all
The scars of your love they leave me breathless,
I can't help feeling
We could have had it all
Rolling in the deep
You had my heart inside of your hand
And you played it to the beat

Baby I have no story to be told
But I've heard one on you and I'm gonna make your head burn
Think of me in the depths of your despair
Making a home down there
'cause mine sure won't be shared

The scars of your love remind me of us
They keep me thinking that we almost had it all
The scars of your love they leave me breathless,
I can't help feeling
We could have had it all
Rolling in the deep
You had my heart inside of your hand
And you played it to the beat

We could've had it all
Rolling in the deep
You had my heart inside your hand
But you played it with a beating

Throw your soul through every open door
Count your blessings to find what you look for
Turned my sorrow into treasured gold
You pay me back in kind and reap just what you sow

We could've had it all
We could've had it all
It all, it all, it all,
We could have had it all
Rolling in the deep
You had my heart inside of your hand
And you played it to the beat

We could've had it all
Rolling in the deep
You had my heart inside your hand
But you played it, you played it, you played it, you played it
To the beat

Compositores: Adele Laurie Blue Adkins / Paul Richard Epworth


Perdidamente

 

 

 

Há um fogo a começar no meu coração
Atingindo um estado de febre, está-me a trazer da escuridão
Finalmente consigo ver-te de forma cristalina
Vá, atraiçoa-me e eu hei-de expor os teus podres
Vê como me vou embora com todos os teus pedaços
Não subestimes aquilo que eu vou fazer
Há um fogo a começar no meu coração
Atingindo um estado de febre e está-me a trazer da escuridão

As cicatrizes do teu amor recordam-me de nós
Fazem-me pensar que nós tínhamos quase tudo
As cicatrizes do teu amor, elas deixam-me sem fôlego,
não consigo parar de sentir
Nós podíamos ter tido tudo
Perdidamente
Tiveste o meu coração na tua mão
E manipulaste-o ao teu ritmo 

Querido, não tenho nenhuma história para ser contada
Mas ouvi uma das tuas, e eu vou por-te a cabeça a arder
Pensa em mim nas profundezas do teu desespero
Criando um lar lá em baixo,
já que o meu com certeza não será partilhado

As cicatrizes do teu amor recordam-me de nós
Fazem-me pensar que nós tínhamos quase tudo
As cicatrizes do teu amor, elas deixam-me sem fôlego,
não consigo parar de sentir que
Nós podíamos ter tido tudo
Perdidamente
Tiveste o meu coração na tua mão
E manipulaste-o ao teu ritmo

Podíamos ter tido tudo
Perdidamente
Tiveste o meu coração na tua mão
Mas brincaste com ele, ao ritmo da batida

Lança a tua alma através de todas as portas abertas
Conta as tuas bênçãos para encontrares o que procuras
Transformaste a minha tristeza em ouro precioso
Vais-me pagar na mesma moeda e colher o que semeaste

Nós podíamos ter tido tudo
Nós podíamos ter tido tudo
Tudo, tudo, tudo
Nós podíamos ter tido tudo
Perdidamente
Tiveste o meu coração na tua mão
Mas manipulaste-o ao teu ritmo

Podíamos ter tido tudo
Perdidamente
Tiveste o meu coração dentro da tua mão
Mas jogaste-o, jogaste-o, jogaste-o, jogaste-o
ao ritmo da batida

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