Para o desenho e desenvolvimento deste guião, houve a necessidade de, previamente, fazermos um estudo aprofundado sobre o contexto atual do jovem numa sociedade digital. Neste estudo, entendemos por ‘jovem’, sujeitos entre os 14 e os 20 anos de idade que frequentam o ensino secundário. É que, com a entrada do séc. XXI, têm-se verificado grandes alterações na forma de estar dos jovens (Nuere, Quintana & Baptista, 2015). Tais modificações ocorrem a diversos níveis, quer sejam económicos, quer em termos culturais e político-sociais.

Verifica-se que as novas gerações, perante tais mudanças,  apreendem  e exaltam, num contexto de insegurança e incerteza, a necessidade de:

w

autoexpressão

identidade

 

autonomia

 

É inegável a importância que os equipamentos eletrónicos, como computadores e smartphones, têm na vida dos jovens (Berrio-Otxoa, Hernández & Martínez, 2002). Os estudos revelam que eles encontram, nesses equipamentos, o dispositivo de eleição que lhes permite a fuga à rotina. Através deles, sobretudo por meio da internet, passam a ter acesso virtual, em qualquer lugar ou momento, a um mundo que lhes parece feito à sua medida.

O simples ato de retirar o telemóvel do bolso, no intervalo entre aulas, e assistir a um videoclipe, faz emergir esse espaço idílico, em que o jovem do séc. XXI, por momentos, se sente livre e no controle da sua própria vida. Com efeito, “os adolescentes entendem a internet como um espaço de ócio diferente daqueles que existem num contexto educativo formal” (Sánchez-Navarro & Aranda, 2011, p.33). Esta tendência para a utilização de equipamentos eletrónicos, encontra-se já bem analisada, em vários estudos elaborados, entre os anos de 2000 e 2010, que apresentam resultados relevantes para a nossa investigação.

Num desses estudos, conduzido em Inglaterra, concluiu-se que os adolescentes ouvem música entre 2 a 3 horas por dia (North, Hargreaves & O’Neill, 2000). Um segundo estudo, elaborado numa escola secundária nos Estados Unidos da América, com uma amostra de alunos Afro-Americanos, revelou que os jovens passavam em média 3,33 horas, por dia, a assistir a videoclipes (Ward, Hansbrough & Walker, 2005). Cinco anos depois, outros estudos norte americanos apontam para um consumo diário de 7,38 horas de tecnologia combinada (Rideout, Foehr & Roberts, 2010)

 

Os equipamentos mais utilizados são

 

computadores

 

smartphones

 

%

dos jovens inquiridos usam o YouTube para consumo de videoclipes

Convém sublinhar que a plataforma livre para a visualização de videoclipes online (Youtube) foi criada no início de 2005. Era o começo de uma nova forma de experenciar a música, com acesso livre e gratuito, para quem pudesse aceder à internet, fazendo-o a qualquer hora, só precisando de usar um equipamento com conexão digital, à época, um computador. Esta circunstância coincide com o começo do declínio da MTV, até então dedicada à difusão de videoclipes.

É sabido que toda a programação desse canal de TV era composta por vídeos musicais, que, essencialmente, serviam para a promoção de cantores e vendas de álbuns musicais: “A MTV contribuiu para a criação dos telediscos ao criar a necessidade da sua procura e ao funcionar como a sua montra no meio televisivo” (Branco, 2014, pp.1-2). Ao elaborarmos este trabalho, encontrámos ainda um quarto estudo, realizado em Espanha em 2009, onde se refere que 75,7% dos jovens, entre os 12 e os 18 anos, navegam na internet, e que 65,4% descarregam músicas ou vídeos (Sánchez-Navarro & Aranda, 2011).

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